Quem Reinará? – I Samuel 8 – 12

Encontramos neste texto os israelitas novamente unidos em torno de um juiz justo e temente a Deus, que os libertara dos conceitos idolatras e da corrupção dos juízes e sacerdotes anteriores.
Ainda estava vívida em sua mente o resultado da corrupção generalizada da geração anterior e seu nascente orgulho nacional dava mostras de preocupação com as gerações futuras, as quais poderiam desviar-se dos objetivos propostos pela atual união de tribos e famílias, ainda não categorizado como uma nação ou estado organizado.
Os mais instruídos (principais em suas tribos) chegaram-se ao então juiz, sacerdote e porta-voz de Deus, Samuel e pediram-lhe, sem faltar-lhe o respeito, acredito eu que colocando os argumentos de forma sucinta e bem razoável, que este escolhesse sobre eles um rei.
Era essa a única forma de governo conhecida. Um governante supremo, normalmente absolutista, com poderes políticos e militares sem limites sobre seus subordinados. Não haviam sido postos em contato com outras formas de governo, que já existiam no seu tempo, como a democracia em algumas cidades gregas).
Durante séculos Deus procurava dirigir o povo escolhido, fazendo sua vontade conhecida por meio de juízes, sacerdotes e profetas. Mas os seres humanos envolvidos vez após outra mostraram-se falhos. Em meio a uma cultura degenerada e envolvente, os israelitas perderam a identidade nacional e dispersaram-se, envolvidos em lutas e guerras tribais contra seus inimigos pagãos e algumas vezes entre as próprias tribos hebréias. Nesse contexto Deus suscita um menino, nascido do voto de uma mulher justa, e o transforma num juiz, num sacerdote e profeta de respeito, homem justo e piedoso, com a capacidade de unir Israel e ressuscitar o sentimento nacionalista.
Creio que a intenção divina não havia sido ter um povo distinto politicamente. Escolhera Israel com propósitos mais elevados. “…em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Genesis 12:3 e 28:14), prometera Ele, dando mostras do seu intento em ter Israel reconhecido mundialmente, não como nação de poder militar ou político, mas sim, como fonte de bençãos, fonte do conhecimento do Deus-Todo-Poderoso, mas também misericordioso e piedoso.
Ao unir-se as tribos de Israel e reconhecerem-se a si mesmos como nação, em seu zelo de manter-se unidos como nação, adoradores do Deus que já provara seu favor para com eles, arrazoaram que deveriam organizar-se como as nações do mundo de outrora organizavam-se.
A Bíblia diz que os filhos de Samuel não lhe seguiram o exemplo e já davam mostras da corrupção que o poder traz consigo. “Porém seus filhos não andaram pelos caminhos dele, antes se inclinaram à avareza, e aceitaram suborno, e perverteram o direito.” (I Samuel 8:3).
Ao ser-lhe solicitado a indicação de um rei, de um governante político, Samuel sentiu-se e declarou-se rejeitado e humilhado pelo povo que tanto servira. Em contrição e amargura expôs seus sentimentos ao seu Supremo Rei. As palavras ditas por Deus então ao profeta não lhe consolaram, antes, abriram os olhos do já idoso profeta para o que realmente significavam aquele desejo político dos “principais”ou anciãos. Era não somente um desejo nacionalista ou rejeição do líder atual, antes uma rejeição aos desígnios de Deus. Uma conformidade com o sistema estabelecido no mundo. Um desejo de semelhança com os idolatras e inimigos de Israel.
Embora a justificativa de uma identidade política parecesse razoável, de forma a proteger o povo dos inimigos e também da idolatria, na prática estavam estabelecendo um governo humano, centrado em seus desejos e ambições mundanas, longe de servir aos propósitos estabelecidos por Deus.
Houvesse Samuel estabelecido-se como rei, seria aceito pelo povo e teria também ele condescendido com o desejo humano de exaltação e orgulho.
Orientado por Deus, ungiu a Saul, um homem simples, entretanto, influente e deveras piedoso, de família rica e importante em sua tribo. Em solenidade pública manifestou a escolha divina de Saul como o homem certo a implantar a monarquia em Israel.
De início parece-nos que Saul apenas apossou-se do título de rei e não sua função, continuando a exercer as atividades agro-pastoris de sua família. Mas em surgindo novamente o perigo real de ataque dos amonitas que periodicamente saqueavam a farta produção agrícola dos hebreus, Saul mostrou-se valoroso líder militar, valendo-se de estratégia e bom senso “… e feriram aos amonitas até que o dia aqueceu; e sucedeu que os restantes se espalharam, de modo que não ficaram dois deles juntos.” (I Samuel 11:11).
Este episódio foi suficiente para unificar definitivamente Israel em um reino sob seu estandarte.
Com um governo de influência estritamente militar, rapidamente Saul conseguir reunir força que protejesse o território hebreu de invasores e saqueadores inimigos. Sua soberania crescente dava constante provas aos homens que escolheram a monarquia como governo de que agiram corretamente e de que a coesão nacional era a forma escolhida por Deus para manterem-nos livres da influência pagã.
Novamente Samuel manifesta-se, não mais como líder político, mas como guia espiritual e alerta para o perigo de por a confiança no poder humano, no exército alinhado, no governo implantado.
“Agora, pois, vedes aí o rei que elegestes e que pedistes; e eis que o SENHOR tem posto sobre vós um rei.
Se temerdes ao SENHOR, e o servirdes, e derdes ouvidos à sua voz, e não fordes rebeldes ao mandado do SENHOR, assim vós, como o rei que reina sobre vós, seguireis o SENHOR vosso Deus.
Mas se não derdes ouvidos à voz do SENHOR, e antes fordes rebeldes ao mandado do SENHOR a mão do SENHOR será contra vós, como o era contra vossos pais.” (I Samuel 12:13-15)
 Em sua pregação e discurso, o Senhor manifestou-se aprovando as palavras do profeta, desaprovando o interesse popular da instituição da monarquia nacional. O povo assombrado e assustado pediram intercessão do profeta e reconheceram a loucura de estabelecer para si governo humano. Ao que o profeta declara:
“Não temais; vós tendes cometido todo este mal; porém não vos desvieis de seguir ao SENHOR, mas servi ao SENHOR com todo o vosso coração.E não vos desvieis; pois seguiríeis as vaidades, que nada aproveitam, e tampouco vos livrarão, porque vaidades são.
Pois o SENHOR, por causa do seu grande nome não desamparará o seu povo; porque aprouve ao SENHOR fazer-vos o seu povo.
E quanto a mim, longe de mim que eu peque contra o SENHOR, deixando de orar por vós; antes vos ensinarei o caminho bom e direito.
Tão-somente temei ao SENHOR, e servi-o fielmente com todo o vosso coração; porque vede quão grandiosas coisas vos fez. Porém, se perseverardes em fazer mal, perecereis, assim vós como o vosso rei.” (I Samuel 12:20-25).

Desejo que a graça divina estampada neste texto possa ser latente também para ti como o foi para Israel. Mesmo reconhecidamente rejeitado o Senhor promete não desamparar o seu povo. Mediante promessas condicionais o Senhor estabelece o seu único desejo de abençoar. Mas também demonstra seu caráter justo e irrevogável: se desviarmo-nos e perseverarmos no pecado com certeza fatal pereceremos.
“E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12:2)

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